quarta-feira, 18 de março de 2009

A camisinha se tornou uma nova ética

Por Reinaldo de Azevedo

Mais do que o famoso e feliz encontro do espermatozóide com o óvulo, o que, de fato, engravida adolescentes (ou passa adiante uma DST) são os valores. Sim, isso mesmo. As ricas aqui de Higienópolis e as pobrezinhas de Cabrobó do Mato Dentro sabem como se faz neném, garanto. Podem não dominar toda a teoria do ciclo reprodutivo, mas não ignoram que “aquilo naquilo” pode levar à gravidez, deixa de barriga, de “bobó”. Ainda não se inventou um método contraceptivo melhor do que não fazer sexo — ou fazê-lo solitariamente, se é que me entendem. É o sexo solidário que faz neném, hehe.
Todos os apelos das campanhas públicas brasileiras incentivam o sexo irresponsável, em vez de desestimulá-lo. A AIDS, por exemplo, está em expansão entre adolescentes. Qual é a resposta do governo federal? Vai colocar máquinas de camisinha — isso mesmo — em cem escolas no ano que vem, em caráter experimental. Não é preciso ser adivinho ou fazer pesquisa para se concluir que se vai criar a demanda por sexo mesmo entre aqueles que não se julgariam prontos para tanto não fosse o apelo.A primeira escolha no que diz respeito ao sexo — como no que diz respeito a qualquer outro assunto da vida privada — é moral: "Devo ou não devo fazer?" Ou, no caso, "transo ou não transo?".
A camisinha é só uma das circunstâncias. Enquanto as campanhas públicas ignorarem esta evidência, o país continuará a enxugar gelo, com suas crianças doentes, com suas crianças “de barriga”.Eu, um reacionárioMas vocês sabem: isso que digo parece insuportavelmente moralista. Afinal, sou um católico reacionário... Imaginem: devo ser do tipo que acredita que a castidade não é uma doença. Progressistas são as campanhas que temos aí, com os efeitos que temos visto...Arremato observando que, ademais, as campanhas públicas que incentivam o sexo são também discriminatórias, reacionárias e contra o pobre.
Explico-me: os adolescentes de famílias abastadas acabam corrigindo com o interesse puramente econômico o que eventualmente não conseguem corrigir pela moral. A exemplo dos adolescentes pobres, também eles estão expostos à campanha “faça sexo e use camisinha”. Mas têm mais clareza de que uma gravidez precoce pode abreviar a boa vida, criar dificuldades para manter os padrões de competição de seu grupo social, dificultar a ascensão etc. O pobre já está mais ou menos lascado mesmo, não é? Se perde a chance da escolha moral, não lhe resta muito além disso.As campanhas estão erradas.
E, no entanto, quem apanha dos “sexólatras” é quem faz a coisa certa — como é o caso da Igreja Católica. Aguardem: o Carnaval já está chegando (não dá pra evitar). E veremos, como de hábito, na propaganda da TV, pessoas que mal se conhecem se atracando, tentadas e vencidas pelo “tesão”... Tudo bem. Afinal, elas usam “camisinha”. Com camisinha, pode tudo.A camisinha se tornou uma nova ética.

Nenhum comentário:

Postar um comentário